Dano ovariano após tratamento cirúrgico para endometriose

enometrioma

O tratamento cirúrgico da endometriose ovariana, por meio da cirurgia de vídeo-laparoscopia, vem sendo utilizado há tempos, muito embora muitas dúvidas existam quando se avalia a melhoria da função reprodutiva e a preservação da fertilidade após a cirurgia. Dados de estudos têm demonstrado que a função ovariana (reserva de óvulos) pode sofrer danos enormes e irreversíveis após cirurgias laparoscópicas para retirada das lesões de endometriose do ovário (endometriomas), levando em alguns casos à menopausa precoce.
Um estudo publicado em agosto de 2013, na Fertility and Sterility, a publicação mensal da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), por um grupo de pesquisadores de Guangzhou, na China, tentou entender as relações entre o tamanho do endometrioma retirado e a magnitude do dano na função ovariana. Foram estudadas mulheres que submeteram-se à fertilização in vitro após uma laparoscopia para retirada de um endometrioma ovariano unilateral.
Observou-se que nos ovários que haviam sido operados, o número de folículos antrais (óvulos imaturos), de folículos dominantes (óvulos maduros após estimulação ovariana com as medicações hormonais) e de óvulos puncionados (retirados) na fertilização in vitro foram menores quando comparados com os ovários sem endometriose. Quando os endometriomas operados tinham mais de quatro centímetros, as diferenças foram ainda maiores.
Ao se comparar o grupo de mulheres que tinha tido endometriomas maiores que 4 cm com o grupo que tinha tido lesões menores que esse valor, detectou-se que todos os parâmetros eram piores no grupo com lesões maiores que quatro centímetros.
Estes dados vão ao encontro de diversos estudos que demonstram os efeitos negativos na função ovariana, após a retirada laparoscópica de endometriomas.
Isto provavelmente ocorre porque a excisão (retirada) dos endometriomas provoca também a retirada de partes não afetadas dos ovários, consequentemente, haveria uma perda grande e desnecessária de óvulos. Quanto maior o endometrioma maior a região ovariana afetada e maior a região normal retirada em conjunto. Além disso, quanto maior a lesão endometriótica maior a dificuldade de retirada cirúrgica e maior o uso de energia térmica para coagular os sangramentos, portanto maior a lesão ovariana.
Deve-se, portanto, individualizar o tratamento cirúrgico para as pacientes com endometriomas ovarianos e endometriose.
Se o objetivo é tratar quadros de infertilidade e/ou preservar a fertilidade, a indicação cirúrgica tem que ser rigorosa e bem avaliada, pois muitas vezes a realização de uma cirurgia não aumenta as chances de uma gravidez, pelo contrário, pode diminuir e até impedir a obtenção da mesma, seja naturalmente ou por tratamentos de reprodução assistida, como a fertilização in vitro.
Se o objetivo é o tratamento da dor provocada pela endometriose, sem necessidade alguma (zero) de preservar a fertilidade, a cirurgia é uma das opções eficazes existentes, muito embora existam tratamentos clínicos e alternativos (acupuntura, por exemplo) que podem ser utilizados para controlar a dor pélvica crônica.
Tem-se que ter um olhar crítico e objetivo sobre essa patologia de difícil controle e tratamento, deve-se individualizar cada caso. Somente assim torna-se possível oferecer o melhor tratamento para cada paciente.

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