A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que pelo menos 15% da população mundial em idade fértil é afetada pela infertilidade. Segundo a União Europeia de Urologia, 15% dos casais afetados procuram tratamento para infertilidade e, deste número, apenas 5% continuam sem filhos. Isso se deve ao avanço a passos largos da medicina reprodutiva, que atualmente dispõe de técnicas que elevam consideravelmente as chances de um casal gerar um filho.
As técnicas evoluíram muito desde o nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978. Há menos de duas décadas atrás, as taxas de sucesso da fertilização in vitro, técnica de reprodução assistida mais complexa e eficaz, eram cerca de 30%. Atualmente, é possível se atingir taxas de 40% a 45%. Atrelados a isso, estão uma grande diversidade de fatores. Um deles é o alto grau de conhecimento e preparo dos profissionais — que não se limitam ao médico.
Equipes multiprofissionais encabeçadas por especialistas em reprodução assistida, ginecologistas, urologistas, embriologistas, biólogos, enfermeiros e psicólogos estão cada vez mais aptas a lidar com os pacientes, com a ansiedade que envolve o processo e, principalmente, com as técnicas disponíveis para fazer a fertilização em laboratório. A estrutura das clínicas também mudou bastante. Os equipamentos e a competência dos profissionais são essenciais para tentar atingir o objetivo da gravidez por meio das técnicas de fertilização in vitro.
Avanços
Porém, o sucesso da reprodução assistida não deve ser medido apenas pela porcentagem de nascimentos. A possibilidade de congelar adequadamente o embrião para implantá-lo na hora em que o útero está mais preparado é só um dos vários casos que ilustram os avanços da área. Nos últimos anos, outro fato observado foi a quantidade de gestações múltiplas, ou seja, quando nascem gêmeos, trigêmeos ou quadrigêmeos, que caiu consideravelmente, pois os progressos permitiram implantar menos embriões no útero sem diminuir a chance de ao menos um se desenvolver.
No passado, até 50% das fertilizações in vitro bem-sucedidas resultavam em ao menos dois bebês. Atualmente, esse número caiu para menos de 30%. O nascimento de gêmeos duplos é aceitável, porém o ideal é o nascimento de um único filho por vez. O corpo da mulher é preparado para gerar apenas um filho por vez. Por mais que muitas delas sonhem em ter gêmeos, a gravidez múltipla pode colocar em risco a mãe e os bebês. Quanto maior o número de fetos, maior o risco para ambos.
Medicina Reprodutiva no Brasil
No Brasil, a legislação permite que se transfiram somente de 1 a 4 embriões por vez, dependendo da idade da paciente. Em mulheres acima de 40 anos, podem ser implantados até quatro embriões a cada tentativa de engravidar. Já no caso da inseminação, a estimulação da ovulação é menor e espera-se que a mulher ovule entre um a três folículos. Mais do que isso, o tratamento é contraindicado pela chance alta de gestação múltipla. Até três folículos, a taxa estimada de gravidez múltipla é de menos de 10%.
Segundo o 9º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), somente em 2015, 35,6 mil ciclos de fertilização in vitro foram realizados no Brasil. No ano anterior, o número havia sido de 27.871. A Anvisa considera como ciclo de fertilização in vitro os procedimentos médicos aos quais a mulher é submetida ao estímulo ovariano e retirada de óvulos para realizar a reprodução humana assistida.
Em dezembro de 2012, o Ministério da Saúde passou a oferecer o tratamento para infertilidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os serviços oferecidos são: indução da ovulação, coito programado, inseminação intrauterina, fertilização in vitro e injeção intracitoplasmática de espermatozoides. Os tratamentos podem ser feitos através do SUS, dependendo apenas da disponibilidade deles em cada centro de saúde. Os exames necessários para o diagnóstico e tratamento do casal, como espermograma, histerossalpinogradia, ultrassonografia, dosagens hormonais e sorologias infecciosas, também nem sempre são oferecidos pelos hospitais.
Porém, talvez a maior dificuldade enfrentada pelos casais ao buscar tratamento para infertilidade gratuito é a fila de espera. O número de unidades saúde que oferece os serviços não é suficiente para atender a demanda pelo procedimento no país. O limite de idade para as mulheres que querem fazer o procedimento pela rede pública é de, no máximo, 40 anos.
Vários estados do país, incluindo o Ceará, não contam com nenhum local que ofereça o tratamento de infertilidade através do SUS.
Quando procurar ajuda especializada
O casal que está tentando engravidar há mais de um ano sem êxito deve procurar ajuda. A mulher nasce com 1 a 2 milhões de óvulos e, já na puberdade, esse número cai para 300 mil, por isso, no caso das mulheres, a idade é um fator primordial para as chances de gravidez. Em pacientes com mais de 35 anos, a chance de engravidar cai consideravelmente. Além disso, quanto maior a idade, menor a qualidade do óvulo. Idade é tudo, sobretudo para a mulher.
Fonte: OMS (Organização Mundial de Saúde) – União Européia de Urologia
Texto escrito pelo Dr. Daniel Diógenes, especialista em Medicina Reprodutiva, Diretor Técnico da Fertibaby Ceará.