Um a cada cinco brasileiros sofre com o problema da obesidade, segundo pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde. A população obesa passou de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016, segundo a pesquisa. O número de pessoas com excesso de peso também aumentou no mesmo período, crescendo de 26,3% a 42,6%. Além dos efeitos negativos já amplamente conhecidos e causados pelos problemas com o peso, como: hipertensão, diabetes, doenças do coração, artrite, apnéia do sono, derrame, insuficiência renal, dentre muitos outros, poucas pessoas sabem que a fertilidade também pode ser afetada pela obesidade.
A má alimentação e o estilo de vida sedentário são responsáveis pelas dificuldades que grande parte dos casais enfrentam para conseguir gerar um filho. A obesidade, causada principalmente por esses dois fatores, pode acarretar disfunção sexual, infertilidade, perdas gestacionais e outras complicações na gravidez.
Manter uma dieta adequada ajuda a regular hormônios e a combater os radicais livres, afetando diretamente na qualidade da ovulação da mulher e, aumentando assim, as chances de gravidez, além de preparar o corpo da mulher para receber uma gestação e até evitar abortos.
Porém, não são apenas as mulheres que devem prezar pela saúde alimentar quando o casal planeja ter um filho. Os homens também precisam seguir uma dieta equilibrada e buscar manter o Índice de Massa Corporal (IMC) indicado, pois ambos fatores influem na qualidade de produção de espermatozoides.
Uma pesquisa feita por estudiosos franceses da Universidade de Paris Descartes e publicada em 2014 na Fertility and Sterility, publicação mensal da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), demonstrou que, em homens, quanto maior o peso corporal, menor o volume de sêmen e a quantidade de espermatozoides e pior a movimentação deles. O estudo foi realizado analisando 10 mil homens. A taxa de azoospermia, ou seja, de ausência de espermatozoides na ejaculação, era 9,1 % maior em obesos.
Além disso, a pesquisa também apontou que o sêmen de homens obesos apresentava uma qualidade inferior ao de homens com níveis normais de IMC. Outros estudos mais recentes demonstram também que a obesidade pode estar associada a uma menor quantidade de testosterona (o hormônio masculino) e a um maior dano ao material genético do espermatozoide, fatores que interferem para piorar ainda mais a fertilidade.
Embora não se compreendam completamente os mecanismos que ligam o excesso de peso à infertilidade, é possível constatar também que, nas mulheres, os distúrbios hormonais sejam os principais causadores, com repercussões sobre a ovulação. Recentemente, a obesidade foi destacada também como um fator isolado para problemas uterinos.
A obesidade pode estar relacionada ainda com a diminuição das taxas de sucesso em tratamentos da infertilidade. Por isso, recomenda-se aos casais que queiram iniciar os processos de fertilização in vitro (FIV), uma mudança imediata dos hábitos alimentares e a busca por um estilo de vida mais saudável.
Quais alimentos são os principais vilões da fertilidade?
O consumo de álcool, associado ao excesso de peso e ao tabagismo, influencia negativamente a concentração e a movimentação dos espermatozoides, sendo um dos principais vilões da fertilidade masculina, ao contrário do que é observado pelo grande consumo de frutas, cereais e vegetais que, por conterem minerais e vitaminas antioxidantes, influenciam positivamente a concentração e a motilidade espermática.
O café, bem como demais alimentos e bebidas que contenham cafeína, quando usados em excesso, também, são representados como fator de risco real para atraso em se atingir uma concepção naturalmente, além de influenciar negativamente as taxas de fertilização em ciclos de fertilização in vitro.
O consumo de alimentos gordurosos, como carnes vermelhas, leite e derivados está relacionado às piores taxas de gravidez e implantação embrionária, isso se deve provavelmente à presença de esteroides anabolizantes presentes na gordura destes alimentos.
Portanto, o recomendado para casais que planejam ter um filho, seja de forma natural ou recorrendo aos métodos da reprodução assistida, é que conste na alimentação de ambos os cônjuges, o consumo elevado de antioxidantes e micronutrientes, seja na dieta ou por meio de suplementação, para poder melhorar a qualidade espermática e de ovulação e, assim, ter reflexos positivos nas taxas de gravidez.
Fonte: Ministério da Saúde do Brasil – ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva).
Texto escrito pelo Dr. Daniel Diógenes, especialista em Medicina Reprodutiva, Diretor Técnico da Clínica Fertibaby Ceará.