A fertilidade masculina ainda é um assunto muito envolto em tabus. Ao contrário do que comumente se pensa, os homens têm chances similares às mulheres de apresentarem algum problema para gerar uma gravidez natural, ou seja, os fatores que causam a infertilidade conjugal podem ser tanto masculinos quanto femininos. Em 20% A 40% dos casos, há ainda a constatação de fatores advindos de ambos os parceiros, porém, ainda é comum as pessoas associarem automaticamente a infertilidade com problemas femininos. Em pelo menos quatro a cada dez casos de dificuldade de engravidar, a causa está diretamente relacionada ao homem.
Apesar de, teoricamente, os homens terem sua fertilidade mantida por mais tempo do que as mulheres, já que produzem espermatozoides a cada 30/40 dias, constantemente desde à puberdade, ao contrário das mulheres, que já nascem com uma determinada quantidade de óvulos e vão sofrendo uma diminuição desse número a cada ciclo de menstruação. Muitos fatores externos influenciam na qualidade de produção dos gametas masculinos. Estresse, má alimentação e fatores ambientais são alguns dos exemplos que podem causar prejuízos à fertilidade dos homens. Estudos apontam que, nos últimos 50 anos, os homens perderam, em média, 50% da quantidade da produção dos espermatozoides. Diante deste cenário, são recorrentes as notícias e a ampla divulgação de informações incompletas ou equivocadas. Vejamos alguns dos principais mitos e verdades acerca do tema. Confira abaixo:
1 – Homens podem ter filhos naturalmente mesmo com idade avançada
MITO – Mesmo que continue produzindo espermatozoides, após os 35 /40 e sobretudo após os 50 anos, a quantidade e a qualidade do sêmen masculino sofrem uma queda lenta, mas progressiva. O ideal, caso o homem queira ser pai, sem precisar recorrer aos métodos de reprodução assistida, é que ele tenha toda sua prole formada antes desse período. Caso ele opte por adiar a paternidade, é recomendável que preserve o material genético antes dos 40/50 anos, por meio do congelamento de sêmen, para ter mais chances de alcançar uma gravidez.
2 – O homem que já teve filhos não tem dificuldade de ter outros posteriormente, mesmo com idade avançada
MITO – Com o passar dos anos, a qualidade e a quantidade dos espermatozoides cai. Além disso, o consumo de álcool, o tabagismo, a obesidade, o estresse e até a ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis também podem interferir na fertilidade masculina. Cerca de 40% dos casos de infertilidade no homem são secundárias. Desta forma, se o homem tiver sido pai pela primeira vez ainda jovem, mas, com o passar do tempo, adquiriu maus hábitos, como fumar, adotar uma má alimentação ou sofreu com alguma DST, suas chances de serem pais novamente tendem a diminuir consideravelmente.
3 – Impotência sexual e infertilidade são a mesma coisa
MITO – São problemas distintos. A disfunção erétil ou impotência sexual é caracterizada pela incapacidade do homem em iniciar ou manter a ereção do pênis para haver a relação sexual. É comum e normal, para a maioria dos homens, ter eventuais problemas de ereção, porém, para ser verdadeiramente diagnosticado com impotência sexual, o homem deve ter apresentado o problema em pelo menos 75% das tentativas de relações sexuais. A disfunção pode estar associada a uma diminuição da libido, falhas na ejaculação e até a doenças cardiovasculares. Já para ser considerado infértil, o homem precisa estar há pelo menos um ano mantendo relações sexuais frequentes e não conseguir engravidar sua parceira, devendo ela também ser examinada. Desta forma, um homem pode ter uma vida sexual ativa e desempenho satisfatório, mas ser infértil. Assim como um homem fértil pode enfrentar problemas de disfunção erétil.
4 – O uso de anabolizantes pode alterar a fertilidade masculina
VERDADE – Além de poder causar impotência sexual, o uso de substâncias para ganho de massa muscular também coloca em risco a capacidade reprodutiva dos homens. Ao consumir a testosterona sintética há uma diminuição da produção da testosterona natural. Além disso, o aumento desse hormônio acima do nível normal pode elevar a concentração de células sanguíneas, desenvolvendo o risco de embolias, causar aumento e dor nas mamas, aumento da glândula prostática e uma série de disfunções hormonais no organismo, que resultam na atrofia dos testículos e, consequentemente, na diminuição da produção de espermatozoides e na infertilidade, às vezes de maneira irreversível.
5 – O uso de laptops pode alterar a fertilidade masculina
VERDADE – O excesso de contato dos espermatozoides com calor produzido por aparelhos eletrônicos, como os laptops e celulares, também, pode comprometer a capacidade reprodutiva masculina. Por isso, o recomendado é que os homens evitem utilizá-lo sobre o colo. Os computadores podem superaquecer os testículos, o que leva à diminuição da produção de espermatozoides. Além disso, homens que trabalham expostos a altas temperaturas, como, por exemplo, em estufas ou situações de alto calor têm um risco maior de produzir espermatozoides com alterações que inviabilizam a gravidez.
Fonte: ASRM (Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva). Novembro de 2018.
Texto escrito pela Dra. Lilian Serio. Especialista em Medicina Reprodutiva. Sócia-Diretora da Clínica Fertibaby Ceará.