O hormônio Anti-Mülleriano, HAM ou AMH (sigla em inglês, mais comumente utilizada) é um marcador da reserva ovariana usado com o objetivo de predizer a quantidade e qualidade dos óvulos e, também, a resposta à estimulação ovariana controlada em ciclos de reprodução assistida, também, pode ser útil na predição de hiper-respostas em pacientes com síndrome dos ovários policísticos e colaborar para individualizar protocolos de estimulação mais adequados ao perfil de cada paciente.
Além do AMH, existem outros marcadores da reserva ovariana, como contagem dos folículos antrais (CFA) e hormônio folículo estimulante (FSH). Nos dias atuais, o AMH e a CFA são considerados os melhores exames para se avaliar a reserva ovariana. O FSH, hormônio produzido pela glândula hipófise é bem menos confiável e não reflete, muitas vezes, a real reserva ovariana.
A chance de gravidez espontânea ou após o uso de técnicas de medicina reprodutiva, como a fertilização in vitro (FIV) diminui com a idade, pela redução da reserva ovariana.
Diversas técnicas têm sido empregadas para determinação da reserva ovariana. A contagem de folículos antrais (CFA), que usa ultrassonografia transvaginal, oferece indicação do número de folículos em crescimento e o tamanho do pool de folículos primordiais.
O hormônio Anti-Mülleriano (AMH) é produzido nas células da granulosa (células ovarianas) dos pequenos folículos e exerce funções reguladoras sobre a foliculogênese (formação dos folículos). Sua concentração sanguínea reflete o número de folículos pré-antrais e antrais, ou seja, reflete o número de óvulos imaturos e, portanto, a reserva destes nos ovários. O AMH apresenta estabilidade durante o ciclo menstrual e declina gradualmente com o avanço da idade da mulher.
O AMH tem boa correlação com a CFA. Os níveis sanguíneos do AMH têm melhor capacidade de predizer a resposta ovariana à estimulação quando comparados aos outros marcadores de reserva ovariana.
A quantidade de óvulos é definida, ainda, durante a vida fetal. A partir da 16ª semana de vida intrauterina inicia-se a formação dos folículos primordiais, a qual se encerra em torno da 20ª semana, período em que os ovários abrigam de 6 a 7 milhões de folículos. A partir disso, inicia-se uma perda média de 50 mil óvulos diariamente, o que resulta ao nascimento em uma quantidade em torno de 1 a 2 milhões de óvulos. Desde o nascimento até a puberdade, entre 300 e 500 óvulos são perdidos a cada dia, o que possibilita que a mulher inicie a vida reprodutiva com uma população de 300 a 500 mil óvulos e que consuma a cada ciclo cerca de mais mil óvulos.
O AMH foi identificado originalmente no testículo fetal, sinalizando a regressão dos ductos de Müller (primórdios dos órgãos genitais femininos) no feto do sexo masculino. Descoberto em 1940, o AMH é uma glicoproteína composta de 560 aminoácidos pertencentes à grande família do fator transformador de crescimento B (TGF-B). É produzido pelas células da granulosa dos folículos pré-antrais e antrais pequenos, principalmente pelos folículos com 4mm e com concentração diminuída naqueles de 6 a 8mm, se tornando indetectável nos folículos maiores de 10mm. Seu papel é considerado importante na regulação do processo de recrutamento.
Os níveis séricos de AMH nas mulheres são menores do que os dos homens ao longo da vida. São quase indetectáveis ao nascimento, com discreto aumento nos primeiros dois a quatro anos de idade e tornam-se estáveis na vida adulta e indetectáveis na menopausa ou após três a cinco dias de uma retirada cirúrgica dos ovários, por exemplo.
Uma das questões mais importantes no tratamento da infertilidade é determinar o tamanho da reserva ovariana, que representa a quantidade e a qualidade dos óvulos.
Recentemente, têm-se teorizado que o AMH é um marcador mais fidedigno do que a idade, na medida em que prediz o grau de envelhecimento ovariano. É possível obter amostras do AMH em qualquer dia do ciclo, uma vez que a variação dos níveis intraciclo e interciclo não é estatisticamente significante.
Portanto, dosar o hormônio Anti-Mulleriano é uma das principais, senão, a principal estratégia quando se deseja avaliar corretamente a reserva ovariana. O AMH e/ou a contagem de folículos antrais (CFA) são exames obrigatórios e devem ser sempre avaliados em mulheres com algum grau de infertilidade. A reserva ovariana deve ser, sempre, avaliada corretamente e jamais deve ser negligenciada, mesmo em mulheres mais jovens (abaixo dos 35 anos), visto que mesmo em idades precoces a reserva ovariana pode estar prematuramente reduzida. A queda da reserva ovariana é um caminho progressivo e irreversível.