Embora muito tenha se ouvido falar sobre a eficácia e as vantagens do uso do dispositivo intrauterino (DIU), nos últimos anos, o número de mulheres brasileiras que aderiram ao método contraceptivo ainda é considerado pequeno. Segundo o Ministério da Saúde, até 2018, apenas 1,9% das mulheres faziam uso do dispositivo como forma de evitar uma gravidez indesejada, mesmo com o incentivo dos ginecologistas e a ampliação do acesso pelo Sistema Único de Saúde.
Desde o final de 2017, o governo passou a disponibilizá-lo gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde do País. A baixa adesão está associada à falta de informação e aos mitos com relação ao dispositivo. Um dos principais seria o de que o DIU contribui para a infertilidade feminina.
O que é o DIU?
É o principal método contraceptivo de longa duração oferecido pelo SUS. Trata-se de uma pequena haste de plástico, em formato de “T”, que é introduzida no interior do útero, para impedir a fecundação dos óvulos. Apresenta taxas de falhas extremamente baixas e pode ficar dentro do órgão por um período de 5 a 10 anos.
Existem dois tipos: o DIU de cobre e o hormonal, ou de levonorgestrel. O primeiro, como o próprio nome sugere, é revestido de cobre e promove uma oxidação dentro do útero. Ele libera pequenas quantidades da substância, o que impossibilita a fecundação, já que causa alterações no endométrio, que é o tecido que recobre a parte interna do órgão; no muco e nas trompas, tornando a região hostil ao espermatozoide, além de ser tóxico ao espermaozoide. Ou seja, ele age não apenas na cavidade uterina, mas também fora dela, interferindo em várias etapas do processo reprodutivo.
Já o DIU hormonal dura de três a cinco anos. Após o seu prazo, assim como o DIU de cobre, ele deve ser removido e trocado. Ele libera, aos poucos, no útero, o hormônio levonorgestrel, muito parecido com a progesterona natural. É um dispositivo medicado. Ele libera cerca de 20 mcg do hormônio, por dia, dentro da cavidade do útero, causando atrofia do endométrio e alterações no muco cervical, efeitos que aumentam muito sua eficácia contraceptiva.
Vantagens e Contraindicações
A principal vantagem do uso do DIU é o fato de que, por ser um dispositivo e funcionar sozinho, não há risco de mau uso. Com o anticoncepcional oral, o método contraceptivo mais usado pelas mulheres brasileiras, pode acontecer muitas vezes o esquecimento, o não tomar no horário correto e isso pode acarretar numa gravidez. Além disso, o DIU é indicado para qualquer mulher com vida sexual ativa e que não tenha anormalidades anatômicas no útero nem fatores de riscos para doenças inflamatórias pélvicas.
O DIU de cobre, especificamente, também é contraindicado para mulheres com alergia ao cobre. Já o DIU hormonal deve ser evitado em mulheres que tiveram câncer de mama nos últimos 5 anos ou que tenham doenças hepáticas.
DIU e Fertilidade
Uma das preocupações mais comuns, com relação ao DIU, principalmente nas mulheres que não possuem filhos, mas têm o desejo de ser mães, é o medo de não poderem engravidar no futuro devido ao uso. O dispositivo só impede a gravidez enquanto está sendo utilizado. Ao retirá-lo, a paciente poderá engravidar normalmente já no próximo ciclo menstrual. O que pode ocorrer é, caso a mulher sofra alguma infecção genital que não seja tratada, a presença do DIU pode facilitar a entrada de bactérias para o útero e as trompas e, a partir disso, levar a problemas que possam aumentar o risco de uma infertilidade.
O método é totalmente reversível. Ele pode ser removido em qualquer momento. Mesmo se a paciente tiver feito o uso do DIU durante muito tempo, a fertilidade retorna num curto período. O DIU em si não causa infecção, mas, se houver uma contaminação (infecção bacteriana), a mulher poderá ter mais dificuldades para engravidar, se a infecção não for tratada corretamente e evoluir para uma DIP (doença Inflamatória pélvica), que se caracteriza pela ascensão da bactéria da região genital inferior (vagina) para útero, trompas e ovários. Vale ressaltar que infecções bacterianas genitais podem evoluir para quadros mais graves, como a DIP, mesmo sem a presença do DIU e que na maioria das vezes essas bactérias provocam infecções silenciosas (sem sintomas ou com sintomas leves, como dor e sangramentos irregulares), ou seja, com ou sem DIU, fica difícil saber quando se teve o contato com tais bactérias. Portanto, a melhor forma de prevenir infecções genitais e DIPs é ter uma vida sexual saudável, usando preservativos e evitando múltiplos parceiros.
Portanto, o uso do DIU não causa infertilidade e nem aumenta o risco de uma DIP ou de infertilidade, o que aumenta esses riscos são práticas sexuais não saudáveis e sem a devida proteção. Prevenir é sempre o melhor remédio.
Fonte: Ministério da Saúde do Brasil. Janeiro de 2019.
Texto escrito pela Dra. Lilian Serio. Médica Especialista em Medicina Reprodutiva. Sócia-Diretora da Clínica Fertibaby Ceará.